quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Festival do Rio 2011: A Primeira Chamada

Há mais ou menos duas semanas as especulações deram lugar as confirmações, e os cinéfilos cariocas começaram a visualizar o que seria a seleção do Festival do Rio 2011. Com o propósito de também aplacar a ansiedade que ainda separa o dia de hoje dos próximos 9 que faltam para o início do Festival, veio através desse post dissecar um pouco do que nos aguarda entre os dias 7 e 20 de outubro. Tentando equilibrar essa incessante espera, torcendo pela qualidade dos mesmos, vim até aqui dar algumas dicas de um cara que há muito tempo é escolado na brincadeira.

Lógico, tem manhas e informações que nem todos tem, assim como sempre irão existir os 'achismos' e também as curiosidades muito peculiares de cada um. Na verdade, eu queria era ter a calma e o tempo necessários para construir essa tabelinha com voces já com a lista final nas mãos, mas como até os leigos sabem, o Festival tem deixado para cada vez mais em cima da hora a divulgação da lista final, com o nome dos escolhidos e seus respectivos horários e sessões.

Bem, como vai funcionar a brincadeira? Eu vou tentar criar uma tabelinha aqui com a maioria dos títulos anunciados, com uma cotação ao lado. Elas serão identificadas da seguinte maneira:

* - nível de importância do título
# - possibilidade do título chegar ao circuito / tempo que isso levará para acontecer
$ - atenção que você deve dar ao título

É lógico que farei um breve comentário também ao lado dos títulos, curiosidades que justifiquem suas cotações, que obviamente irão variar de 1 a 5 símbolos. Por fim, farei uma lista dos títulos que ainda não foram mencionados pelo Festival, mas que todos nós gostaríamos de ver por aqui, com também uma cotaçãozinha de 1 a 5 (!) para registrar as reais possibilidades de ainda os vermos a bordo da maratona de 2 semanas.

A princípio, os já confirmados:


- A Separação, de Ashgar Fahradi (*****) (#####) ($$$$$) - provavelmente um dos mais esperados e importantes filmes do Festival esse ano, o filme levou o Urso de Ouro em Berlim e é o candidato do Irã ao próximo Oscar; é uma prioridade pra mim, mas saiba que o filme deve estrear aqui em janeiro.

- Fausto, de Aleksander Sokurov (*****) (#####) ($$$$$) - compete com o título acima em importância, o filme acabou de levar o Leão de Ouro em Veneza; já tem estreia garantida por aqui, mas merece atenção especial por não ter ainda nem sombra de data.

- Drive, de Nicolas Winding Refn (*****) (#####) ($$$$$) - vencedor do premio de direção em Cannes, o filme promete ser uma das sensações do Festival, e apesar de comprado, tb não se tem ideia da data de estreia.

- A Pele que Habito, de Pedro Almodovar (****) (#####) ($$$) - um novo filme do mestre espanhol é sempre um acontecimento e esse não é diferente, mas o filme estreia na semana seguinte ao Festival. Será que vale a pena o stress das filas que estarão enormes?

- Um Método Perigoso, de David Cronenberg (****) (#####) ($$$$) - o filme foi bem falado em Veneza, mas saiu sem nenhum premio. Com estreia garantida por aqui, o filme ainda não tem data certa, mas se as indicações ao Oscar vierem, não deve passar de fevereiro.

- O Cavalo de Turim, de Bela Tárr (*****) (###) ($$$$$) - até por não ser óbvia a sua chegada (na verdade, até o momento ela nem é certa), o ultimo filme de Tárr parece q terá de ser disputado a tapa.

- Tudo pelo Poder, de George Clooney (****) (#####) ($$$$) - o filme acaba de ser adiado para janeiro entre nós. Ou seja, acho que vale a pena correr pra ver.

- Le Havre, de Aki Kaurismaki (*****) (#####) ($$$$$) - o candidato da Finlandia ao Oscar de estrangeiro do ano que vem deve estrear por aqui, provavelmente na época da premiação.

- Terraferma, de Emanuelle Crialese (*****) (####) ($$$) - ainda não foi anunciada sua compra no Brasil, e o filme levou o Grande Premio do Juro do ultimo Festival de Veneza. Logo, convém conferir.

- Aqui é o Meu Lugar, de Paolo Sorrentino (****) (#####) ($$$$) - Sean Penn é o protagonista desse filme que prometia muito em Cannes mas não cumpriu, ao que parece.

- A Guerra está Declarada, de Valerie Donzelli (****) (####) ($$$$) - o filme que a França escolheu para representa-la no próximo Oscar tem premissa lacrimogênea e já foi comprado aqui no Brasil; vai saber quando chega.

- Polisse, de Maiwenn Le Besco (****) (##) ($$$) - saiu de Cannes com o premio especial do juri; mesmo assim tem poucas chances de aparecer por aqui depois do Festival.

- O Garoto da Bicicleta, dos Irmãos Dardenne (*****) (#####) ($$$) - o filme ficou com o segundo lugar no ultimo Cannes, mas já caiu na rede para baixar. Se vc é a favor do cinema, lógico que não pode perder.

- Inquietos, de Gus Van Sant (****) (#####) ($$$) - apesar de ser muito badalado, o filme novo do diretor de 'Elefante' estreia logo após o Festival.

- Hanna, de Joe Wright / O Pior dos Pecados, de Rowan Joffe (**) (#) ($) - ambos os filmes chegam ainda em outubro nas locadoras do país. Logo, por melhores que eles sejam, esqueça-os.

- 4:44, de Abel Ferrara (***) (###) ($$$) - um dos diretores mais undergrounds em atividade apresenta sua visão do fim do mundo, em um único dia.

- Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin (****) (####) ($$$$$) - filme independente americana que deve causar furor no próximo Oscar, e cuja estreia aqui deve ficar pra longe ainda.

- Tyranosaur, de Paddy Considine (****) (###) ($$$$) - britânico com pedigree, a cara do típico filme que nunca estreia por aki.

- Contágio, de Steve Sorderbergh (***) (#####) ($$) - o filme estreia ainda em outubro é um blockbuster hollywoodiano; que tal ve-lo quando ele entrar em cartaz?

- Miss Bala, de Gerardo Naranjo (***) (##) ($$$$) - todos dizem que o filme é sensacional desde Cannes; esse vale a pena hein?

- Post Morten, de Pablo Larrain (***) (##) ($$$$)

- Ganhar ou Ganhar, de Thomas MacCarthy (***) (###) ($$$)

- Dark Horse, de Todd Solondz (***) (###) ($$$)



Depois de ter uma prévia do que vem por aí no Festival, que tal saber do que ainda poderá vir?


- Shame, de Steve McQueen (!!)

- Once Upon a Time in Anatolia, de Nuri Bilge Ceylan (!!)

- Carnage, de Roman Polanski (!!!)

- Footnote, de Joseph Cedar (!!!!)

- O Artista, de Michel Hazanavicius (!!)

- Les Bien Aimée, de Christophe Honoré (!!)

- Un Eté Brulant, de Phillipe Garrel (!!!)

- Albert Nobbs, de Rodrigo Garcia (!!)

- As Neves de Kilimanjaro, de Robert Guediguian (!!!)

- O Espião que Sabia Demais, de Tomas Alfredson (!)

- Alps, de Yargos Lanthimos (!!)

- A Simple Life, de Ann Hui (!!!)

- Moneyball, de Bennett Miller (!!)

- Take Shelter, de Jeff Nichols (!!!)

- Killer Joe, de William Friedkin (!!)

- W.E., de Madonna (!)


Depois dessa pequena amostra do que vem e do que ainda pode vir, é só mergulhar de cabeça no Festival que começa sexta que vem. Preparados?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

As Invasões Bárbaras

Sábado foi um dia. Domingo foi outro dia. Um dia após o outro. Entre eles, muita fumaça e muita lembrança. De um tempo onde os vikings dominavam a Terra e os povos dominados por eles tentavam resistir ao seu domínio, mas terminavam sempre a se deixar dominar. Nos anos onde os vikings exerceram seu poder, ficou claro como muitas vezes foi preciso enganar, roubar e até matar para continuar vivo; de alguma forma, ainda assim os povos chegaram a se acostumar com tal situação e houve felicidade, durante muito tempo.

Mas nada dura para sempre, e os vikings foram vencidos de forma igualmente cruel. Tempos difíceis onde apenas se igualando ao opositor a vitória é conseguida. Após esse tempo implacável, vieram as trevas. Fome, sede e desesperança fizeram o povo antes dominado muita vezes clamar a volta dos seus antigos algozes. O sol quase não brilhava, embora vez por outra uma viagem mostrasse um novo alento aos sobreviventes, que logo eram novamente atirados a sua via-crúcis.

Muitos anos se passaram e quando menos se esperava, veio o tempo em que selvagens pigmeus fizeram a diferença diante do caos. Com sua proposta amistosa, eles chegaram e logo se mostraram tão perigosos quanto os antigos vikings, mesmo sem se dar conta dos inimigos em seu caminho. De um lado, uma tribo sanguinária capaz de escalpelar os rivais; do outro, a imensidão de uma bruma envolvente e avassaladora, capaz de levar povos e pigmeus a loucura.

Essa névoa vinda de não se sabe onde chegou sorrateira e arrastou tudo para dentro de uma escuridão absoluta. A princípio sedutora e enigmática, logo mostrou sua verdadeira face enquanto jogava tudo ao seu redor no mais completo terror desconhecido. A busca por uma saída daquela atmosfera opressora se mostrava cada vez mais complicada e cheia de armadilhas, mas os povos se lançaram com coragem rumo a mais essa batalha, contra esse inimigo silencioso e literalmente mortal, mas que podia os livrar para sempre dos grupos de covardes que os subjulgava; cabia aquelas pessoas apenas voltar ao início e planejar muito bem a fuga daquele pesadelo final. Ou rezar aos céus para que a densa névoa se transformasse no mais singelo orvalho da manhã.


Fábulas foram criadas desde o início dos tempos para nos livrar de uma realidade amarga, para apaziguar situações de onde não se vê saída. Muitas delas foram contadas com tamanha entrega e veracidade que tantos foram os que passaram a viver sob sua égide, confiando que o sonho um dia se torna real.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Tríade - Parte II

O caso de 'Cópia Fiel' é um pouco parecido com o de 'A Falta que nos Move', tirando a diferença de apenas 1 ano. Foi no Festival do Rio do ano passado que eu tive contato com a mais nova obra-prima de Abbas Kiarostami pela primeira vez. As credenciais eram as melhores: burburinho alto e forte em Cannes, prêmio de atriz para a estupenda Juliette Binoche, revolta de muitos que clamavam a própria Palma de Ouro para ele. Daí o filme, que já era o mais esperado da Croisette para mim, passou a mais esperado do Festival e do ano. A sessão dele foi programada junto com a de 'Tio Boonmee, que pode Recordar suas Vidas Passadas', ele mesmo o próprio vencedor em solo francês. Era de fato o dia mais esperado do Festival do Rio, na minha opinião.

Resultado? Pobre Apichatpong... por mais que eu tenha gostado do lirismo tailandês para as divagações sobre as muitas vidas além da vida do tio moribundo, Kiarostami me destruiu inteiro. Um ano depois, ainda não me recompus. E foi exatamente pós-'Cópia Fiel' é que me liguei o quão esse cineastas é um dos melhores artesãos da atualidade, com um currículo invejável para qualquer um no mundo ocidental.

'Dez', 'Onde Fica a Casa do meu Amigo?', 'Gosto de Cereja', 'Através das Oliveiras'... essas são apenas algumas das inúmeras produções onde o cineasta abordou sua própria liberdade de expressão num país onde sabemos que isso não é uma prioridade. Ao lado de nomes como os de Mohsen Mahkmalbaf, Jafar Panahi e Majid Majidi, construiu uma base muito sólida e marcante acerca de uma cultura que ainda hoje não conseguiu se libertar. A visão de Kiarostami e seus conterrâneos sempre nos deu a impressão de que talento não faltava àquela parte do mundo, e apenas a censura imposta a eles poderia calar suas vozes talentosas.

Pois Kiarostami consegue em 'Cópia Fiel' ampliar sua visão para além do Irã e mostrar, ao mesmo tempo, como cada lugar do mundo é parecido sob um ou outro aspecto. A discussão sobre vida e arte aqui reverbera para muito além de seu país natal e da Itália mostrada na produção. É uma viagem abrangente e paradoxalmente muito íntima, onde um homem e uma mulher se encontram e mostram suas imagens e também o reflexo delas, através do tempo. Cópias do que um dia foram, originais do que são hoje.

Como na arte, Kiarostami compreende que a mensagem que chega até nós é mais importante que a aparência que a mesma tem. Seja ela falsa ou verdadeira, o poder de transformação quando nos toca não é o mesmo? A discussão é colocada a prova conforme o brilhante texto do autor sai de uma intéprete do porte de Binoche, que transforma todas as ondulações do filme em verdade pura. Através dela e de Kiarostami, a arte ganha vida, mesmo quando tudo é apenas uma pálida recriação de algo que não existe mais.

Candidato ao posto de primeira obra-prima da nova década, 'Cópia Fiel' encanta e extasia tanto quanto faz pensar, dividindo com 'A Árvore da Vida' o título de mais reflexivo filme da temporada. Ou a obra de Terrence Malick ultrapassa todas as barreiras filosóficas e artísticas que 2011 ousasse alcançar?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Voz de Enid: 'Confiar'

Quem diria, David Schwimmer como diretor. Lá atrás, quando era apenas o Ross de 'Friends', ele chegou a dirigir inúmeros episódios do seriado, e com certeza foi por lá que nasceu o gosto pela coisa, já que ao final da série, ele continuou no ofício por outras séries. Depois de se aventurar por alguns filme para TV, ele estreou no cinema com 'Maratona do Amor', uma comédia britânica super simpática com Simon Pegg. Enquanto ele esteve no terreno da comédia, na qual ele viveu por 10 anos ininterruptos, tudo estava dentro do conforme esperado, sem grande imaginação. Mas eis que surge no caminho esse drama/suspense sobre pedofilia nos tempos da internet; mais antenado impossível, o problema é o desenrolar.

Talvez outro grande problema a 'Confiar' é ter vindo após 'meninamá.com', que talvez seja definitivo sobre o assunto sob praticamente todos os pontos de vista. Como avançar sobre aquele filme? Talvez concebendo uma direção dinâmica e moderna seja uma resposta, e é por aí mesmo que Schwimmer opta, acertando nas primeiras escolhas estéticas, atraindo inclusive o público jovem, que é o alvo principal da produção creio eu. A partir do momento que o conflito é estabelecido e o filme sai da seara do suspense, toda a psicologia do filme se enfraquece, e o filme ganha ares de documentário institucional para escolas e hospitais.

O conflito principal do filme é vivido por Annie (Liana Liberato, uma novata segura num papel bem difícil), que é uma adolescente como tantas outras. Aos 13 anos, ela tem pais  (Clive Owen e Catherine Keener) que a amam, amigas da sua idade, pratica esportes, é boa aluna e não vive sem a internet. Passeando por sites de amizade virtual, acaba conhecendo Charlie, um menino pouco mais velho q ela, entrando na faculdade e logo ambos estão encantados virtualmente. Aos poucos, Charlie ganha a confiança de Annie e revela ter mais que os 15 anos que disse a princípio. De 15 a 19, de 19 a 25, e é marcado um primeiro encontro entre eles, e... Charlie na verdade tem mais de 35. Apesar do desconforto, Annie acaba cedendo a todas a investidas de Charlie, e ambos acabam mantendo relações sexuais. Ao ver o que considera ser 'o amor de sua vida' desaparecer, Annie se desespera e desencadeia um processo na qual sua família irá desmoronar diante do abuso cometido contra ela, da qual a própria não acredita ter sofrido.

Complexo em suas teorias e ao mesmo tempo bem simplório no desenvolvimento das mesmas, o filme desperdiça o excelente início ao fugir de toda e qualquer polêmica maior, deixando a discussão em torno do filme ganhe bem mais profundidade que o mesmo; aí é hora do público saber interpretar e diferenciar. Óbvio que o tema é importante, merece ser abordado e precisa sim cada vez ser mais mostrado, exatamente para servir de alerta para as coisas monstruosas que vem sendo cometidas. Mas a burocracia não deve ser a saída para qualquer tipo de cinema que for, por mais bem intencionado que ele seja.

Alheios a isso, Owen, Keener e Viola Davis (como uma psicóloga que orienta Annie após o ocorrido), estão irrepreensíveis e deixam claro que o talento pode vazar mesmo sem a permissão do material, e acabam equilibrando um filme que no fim das contas fica no meio do caminho mesmo.


Título Original: Trust. Direção: David Schwimmer. Roteiro: Andy Belling & Robert Festinger. Elenco: Clive Owen, Catherine Keener, Liana Liberato, Viola Davis, Jason Clarke, Chris Henry Coffey. NOTA: C-

A Voz de Enid: 'Missão: Madrinha de Casamento'


Kristen Wiig e Judd Apatow são nomes que cresceram em paralelo na comédia americana atual, e que até hoje apenas flertavam um com o outro. Wiig decidiu há muito tempo que seu talento não cabia no 'Saturday Night Live'; ok, a decisão foi meio que libertador para ela, que precisou ampliar sua zona de atuação para além das sátiras do clássico humorístico que sobrevive até hoje exportando talentos como o seu. Aos poucos trabalhando em pequenas participações em filmes de companheiros de elenco, não demorou para ela cair nas graças do grupo que mais faz rir no cinema americano hoje: exatamente o de Judd Apatow. O homem por trás de 'Ligeiramente Grávidos', 'SuperBad!', 'O Virgem de 40 Anos', 'Quase Irmãos', 'Segurando as Pontas' e tantos outros sucessos de público e crítica resolvem enfiar bancar o primeiro roteiro escrito por Wiig para o cinema e a exposão se ouve até agora: 170 milhões de dólares nas bilheterias.

O queixo de todos deve estar caído até hoje, ninguém esperava nem 100 dessa modesta produção de 25 milhões. Filme mais rentável de Apatow até hoje, a produção estrelada por jovens da tv com pouco ou nenhum 'starpower' (além de Wiig, também temos Maya Rudolph, Rose Byrne e Melissa McCarthy no elenco), apenas o crédito da imprensa americana, o boca-a-boca e o carisma de uma história fácil e de apelo universal justificam uma arrecadação que o filme não mereceu, essa é a verdade.

Se por um lado o filme tem algumas cenas engraçadas (e pelo menos uma impagável, quando Wiig e Byrne disputam por um microfone e se rasgam em demonstração de carinho à noiva no ensaio do casamento), por outro o filme deixa diversas situações do roteiro em aberto, além de se apoiar em clichês que não parecem nem um pouco incomodados em ser revividos. Na tela, vemos uma solteirona solitária (Wiig) as voltas com o casamento de sua melhor amiga (Rudolph), na qual ela será madrinha junto com um grupo de mulheres ricas e disputado entre ela (que já nem sabe mais se a amizade das duas é algo acima da média mesmo) e uma espécie de vilã, que fará de tudo para detonar durantes os preparativos para o casório.

Com uma temática feminina forte, o filme na verdade é como se fosse uma resposta ao excesso de masculinidade de coisas como 'Se Beber, Não Case!' e dos filmes de Apatow, e aí entendemos o interesse do mesmo. Mas enquanto os filmes produzidos por ele não cansam de surpreender e se desdobrar, o roteiro desse aqui é um queijo suíço, cheio de furos. Jutando isso ao fato de que o filme realmente não inventa a roda e que seu elenco não evoluiu como poderia também graças ao roteiro travado e repetitivo. Então, talentos como os de Byrne e McCarthy ficam escondidos sob quilos de trama reciclada. Enquanto sigamos sem entender a cachoeira de dólares que o filme fez, vamos acompanhando outro filme cujo público feminino fez toda a diferença na hora de computar seus avanços na bilheteria (que está indo justamente na direção dos 170 milhões que esse aqui fez): 'Histórias Cruzadas'.

Mas esse é uma história que nós só ouviremos lá na frente, quando estrearem os longas com potencial junto ao Oscar, e que são a cara dessa produção. Um ano onde as mulheres disseram o quer queriam ver, e que ao menos no caso de 'Missão: Madrinha de Casamento' é chato constatar como elas estavam erradas.


Direção: Paul Feig. Roteiro: Kristen Wiig & Annie Mumolo. Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Melissa McCarthy, Ellie Kemper, Wendi McLendon-Covey, Chris O'Dowd, Jon Hamm, Jill Clayburgh. NOTA: C-

sábado, 17 de setembro de 2011

As Dores de ser Puro de Coração

Me cobram relevância. Na verdade, não sei se me cobro mais relevância ou coerência. Ok, a coerência é algo mais importante de ser alcançado. E eu luto pela minha diariamente, constantemente. Mesmo em noites e dias ruins, procuro ter coerência e ser fiel ao que acredito. E assim sendo, as vezes me escapa a relevância pelos dedos.

Um grande amigo essa semana me falou em relevância. Outras pessoas insistiram nela, e eu acredito que tenho sido pouco relevante de uns tempos pra cá. Mas às custas dessa ausência de relevância é que minha coerência tem trabalhado. Porque prefiro abrir mão de uma posição privilegiada em relação ao que é dito ou sentido, mas minha convicções continuam ilibadas.

Ontem observei a vida passando pela sacada e resolvi espiar seu desenrolar. Há um tempo que resolvi tirar folga da corrida incessante que todos nós promovemos e me dar ao luxo de apenas servir. E acredito que tenho servido muito bem, independente da minha sinceridade celebrada. Mesmo assim, essa observação doeu; é quase sempre muito dolorido ser humano hoje em dia. Porque a vida taí, diariamente te cobrando necessidades contraditórias às suas mais recentes decisões. Enquanto a noite for especial e estrelada, eu continuo insistindo na vã filosofia de tentar. Porque não há nada mais tranquilo atualmente que viver intensamente uma história tão livre de propósitos, disse algum sábio por aí.

Correndo atrás de coerência nem sempre se ganha algo prático, mas quase sempre se ganha muito de teórico. Meus dias estão lotados de teorias, e eu quero partir para a verdade. Ser verdadeiro e puro, mesmo que isso signifique ser dolorido. E acreditando no dia a dia, na vontade plena de continuar, nas certezas incertas que criamos e mostramos a quem está ao nosso redor, é que preciso nunca perder a noção de que há muito a minha volta. Que o hoje é algo muito precioso. E que amanhã absolutamente tudo pode mudar.

Só a pureza se encontra em oferta hoje. E se doer... a vida vai estar sempre pronta para nos curar. Mais uma vez.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Voz de Enid: 'Pronta para Amar'

Nos daqueles raros casos onde acabamos fazendo tanta besteira quanto os 'donos reais' da bola, fica a dúvida de qual dos 2 títulos desse filme é o pior, se nossa versão cretina ou se o original ('A Little Bit if Heaven', que acreditem, é o apelido de um personagem do filme que em nenhum momento se justifica; talvez exista apenas para nomear o filme...). É sempre bom deixar o tamanho monstro de má vontade que eu estava com esse filme, desde o primeiro trailer. Ou deveria dizer, desde ver a escalação? Quem disse que Kate Hudson e Gael García Bernal teriam química? Bem, o 'bebê nasceu'... e não é que a criança não é tão feia assim?

Por partes: é um grande filme? Não. Merece inúmeros prêmios e indicações? Não. Se tornará inesquecível? Não. Tem interpretações espetaculares de seu elenco? Não. O roteiro parece ter sido escrito por Woody Allen? Não. O que diabos tem de motivos para que eu esteja pisando em ovos para chegar até onde quero? Bem, não dá pra dizer que o filme não é envolvente. Independente de seu roteiro piegas e batido, de sua direção ok, da sua absoluta falta de novidade estética (o que raios uma figurinista como Ann Roth veio fazer aqui?), da protagonista ser MUITO antipática em grande parte do tempo (e de Hudson não ser mais nem a sombra da jovem encantadora de 'Quase Famosos'), o filme prende e, vá lá, emociona com uma visão sobre ser desprendido com muitos valores nos quais nos agarramos pela vida afora.

Marley (Hudson) é uma jovem publicitária que não se amarra por coisa alguma, tem uma vida relativamente boa e fácil, transando aqui e acolá sem se prender a ninguém, e com um grupo de amigos que mantém seu nível de carência baixa, em qualquer caso extremo. Com um ritmo de trabalho intenso e uma "vida social" bastante movimentada, nem nota que emagrece a olhos vistos ao ser alertada pelos amigos e chefe. Não tarda e um diagnóstico de câncer cai como uma bomba esmagadora sobre ela, sem pedir licença e já chegando que veio pra dar trabalho. Logo, a moça irá mirar seu humor ácido para todos os lados, mesmo até para o igualmente jovem Julian (Bernal), o médico que estará encantado desde a primeira vez que vê. Com seu séquito de amigos (que inclui as talentosas Rosemarie DeWitt e Lucy Punch) a lhe apoiar, tendo que finalmente rever a difícil relação que sempre manteve com os pais separados (Kathy Bates e Treat Williams) e em vias de iniciar um romance nunca planejado, Marley começa a viver todos os dias como se fossem os últimos, a medida que a doença avança.

Sem jamais ser o que o trailer vende (comédia romântica?????), mesmo assim é fácil ser tocado pelo filme e sua proposta. Com participações especiais surreais dos grandes Whoopi Goldberg e Peter Dinklage, basta não procurar cabelo em ovo para simpatizar com o filme. Esqueça que você já viu essa história dezenas de outras vezes, embarque na deliciosa trilha sonora (e tente resistir a 'Shine' e 'Beauty in the World', respectivamente dos vozeirões Laura Izibor e Macy Gray) e esqueça por alguns minutos que o cinema produz coisa melhor, até mesmo nesse fim de semana que o filme estreia. Se emocione, aprenda com erros alheios (corrigindo os nossos) e esqueça-o; escapismo emocional de vez em quando faz bem.

PS: Tinham outras fotos para colocar do filme... mas eu vi essa, achei tão bonita e tão cheia de make-up e protoshop, que decide embarcar de vez no filme, e somente deixar a minha crítica mais bonita, com essa foto tão fake quanto fofa.


NOTA: 4,0.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Voz de Enid: 'Além da Estrada'

E foi assim que o cinema se tornou globalizado. De repente, não sabemos mais definir de que país exatamente é um filme. Lembro do Festival de Cannes de 2002, quando 'O Pianista' sagrou-se vencedor. O filme de Roman Polanski tinha qualidades e merecia ser premiado, mas eu lembro que nos meus 22 anos a pergunta que ficou na cabeça era: que nação venceu Cannes? Essa dúvida se fazia presente porque eu cresci observando os grandes festivais e comparando-os a disputa entre as escolas de samba do carnaval carioca. No ano tal a vencedora tinha sido a Beija-Flor, no seguinte a Mangueira, e por aí vai. Na minha visão, os países eram as agremiações, e o enredos em si simbolizavam os próprios filmes. A vitória da produção que abordava o sorevivente do holocausto, nessa metáfora carnavalesca, simbolizava um desfile único onde o Salgueiro, a Portela, a Mocidade, a Unidos da Tijuca e a Grande Rio tivessem feito em conjunto um enredo.

As co-produções, cada vez mais presente por inúmeros motivos, hoje são a tônica e a possibilidade de muitos roteiros sairem do papel. Junto a essa nova realidade, países mais necessitados desses acordos acabam levando a pior no cabo de guerra sobre a decisão de qual nacionalidade são determinados filmes, e aí vemos produções cada vez mais híbridas nascerem de propostas e necessidades distintas. No fim das contas, com o preto no branco, é fácil falar que um filme como 'Biutiful' é uma co-produção entre o México e Espanha; mas com que cara o estado mexicano indica a produção como sua opção para tentar uma vaga entre os melhores filmes estrangeiros na premiação do Oscar (e acabar conseguindo tal indicação), tendo em vista que o filme é rodado na Espanha, com atores espanhois, realidade espanhola, enfim, com quase nenhum laço que o una ao México? No momento dessas definições de premiação é que percebemos como cada vez é mais difícil correlacionar filmes e países. A qualidade das produções, no entanto, nada tem a ver com nacionalidade, como é o caso de 'Além da Estrada'.

Ano passado, o filme concorria na seleção da Premiére Brasil do Festival do Rio, de onde saiu com o prêmio de direção para o estreante Charly Braun. Lá fui eu então assistir ao filme, como costumo fazer aos concorrentes da mostra, nem que seja para opinar sobre a decisão final e o rumo dos Redentores entregues. Qual não é o meu susto ao ver entre a competição, em meio a histórias de um estelionatário paulista, um artista esquizofrênico sergipano, uma história de amor entre homossexuais cariocas, um drama depressivo também gay e também ambientado no Rio de Janeiro, o despertar da paixão entre um argentino e uma belga, num caminho tortuoso até Punta Del Este. O que esse filme tem de nacional, para ambicionar uma competição entre longas nacionais? Em tese, apenas o dinheiro; língua, atores, espaço cênico, ambientação, realidade, nada é nacional. Sobram a grana, o diretor e alguns técnicos. Isso diminui o filme? Não. Apenas, ao meu ver, quantidade de dinheiro nenhum influencia a sua nacionalidade. Tanto quanto 'O Jardineiro Fiel', 'Água Negra', 'Um Homem Bom', 'Diários de Motocicleta', 'Ensaio sobre a Cegueira' e provavelmente também 'Corações Sujos', 'Além da Estrada' é tudo, menos 'cinema nacional'.

Dito isso, passamos ao concreto: a estreia de Braun´nos longas é muito promissora. Sem um roteiro de grande porte, o 'road-movie' de ritmo lento mas nunca enfadonho nos transporta para a viagem de Santiago, um rapaz que volta a cidade natal para cuidar do testamento dos pais. Durante uma viagem até uma fazenda, conhece Juliette e se encanta por ela. Assim nasce mais um romance no cinema, de tintas bem delicadas e que se desenrola no seu próprio tempo. Ele, em busca de nomear o próprio passado para dar um rumo ao presente; ela, em busca da paz de espírito que só um grupo neo-hippie acredita capaz de trazer. Juntos, eles irão bem devagarzinho olhar um para o outro e encarar uma nova realidade diferente do que imaginavam.

O filme é bem fotografado e interpretado de forma naturalista pelos estreantes (no elenco, uma ponta de Guilhermina Guinle, meia-irmã do diretor e uma das produtoras), que injetam doces verdades a um filme singelo e bem intencionado, que até escorrega aqui e ali por conta de um roteiro por vezes vago, mas que cumpre com louvor as expectativas de abrir as portas do cinema para esse novo nome. Se não chega ao ponto que poderia caso parasse em mãos experientes, pelo menos faz o necessário para que torçamos pela próxima investida de Braun atrás das câmeras.


NOTA: 8,0.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Rei dos Enganos

Desde cedo tô com vontade de escrever. Deve ser o comichão que dá assim que sabemos que há um espaço onde seremos lidos e avaliados, buscando sempre aprimorar minhas opiniões e convicções (ao menos eu penso assim). Deve ter sido o fato de que chorei muito nos cinemas hoje vendo 2 filmes que mexeram muito com meus canais lacrimais de diferentes formas ('Medianeras' e 'Pronta para Amar', falo mais sobre eles proximamente). Me senti conectado às histórias também de maneiras diferentes, aliado isso ao fato de olhar ao meu redor e me imaginar num imenso quarto bagunçado, relutando a arrumar.

Aguardando que um futuro com nome e sobrenome se jogue na minha cabeça e resolva a bagunça, eu observo o todo a minha volta. E me sinto estúpido quando percebo que não sei o que estou fazendo, quando tudo indicava que eu sabia. Nada grave, apenas é chato bancar o palhaço bobo.

Lembro que no passado eu 'tentava' muito, até mesmo quando sabia que estava tudo errado, ainda assim eu tentava. Aliás eu ainda tento, mas com o foco sempre desligado. E tantas vezes foram as besteiras que eu fiz por conta de uma informação errada que eu decidi a partir de agora me esforçar a mudar, e esquecer tudo que está nas sombras. Se algo não está claro, só terá minha atenção quando e se estiver claro.

Então adeus enganos nas cabines, adeus enganos interestaduais, adeus pequenos e grandes enganos que atrasam a vida da gente. Motivado pelo puxão de orelha que levei diretamente de Fortaleza, esqueçamos tudo que não está desfocado e nos preparemos para um tempo de luz.

Férias. Festival do Rio. Um mundo de possibilidades? Quero acreditar que sim.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Voz de Enid: "Cowboys & Aliens"

Antes de tudo, acho que fiquei devendo a voces um post explicativo, citando de onde vem o título do blog e porque ele veio batizar esse espaço. Mentira, na verdade eu não achava que devia nada; quem me conhece e sabe da situação por trás dele, ótimo... os outros, pegariam a piada em algum momento.

Mas taí que eu decidi fazer um espaço dentro do próprio blog para as críticas cinematográficas. Nada em separado, apenas um codinome onde voces pudessem ler e entender que, se havia aquele sinal ali, era o momento que eu estava parando tudo para escrever sobre um filme em questão. E na hora de batizar o "blog dentro do blog", eis que o tal 'mundo fantasma' volta a me assombrar. E aí sim, com tantos subtextos, resolvi detonar a piada interna e torna-la externa.

Pois bem, tudo muito fácil: 'Ghost World', pra quem não sabe, é ele já o título de um filme, de longínquos 10 anos atrás, indicado ao Oscar de roteiro (embora merecesse muitas outras). Na trama baseada numa HQ, Enid e Becky são duas amigas recém saídas do colegial que abdicam da faculdade para... não fazer nada. O que importa para elas é sua amizade e viver de acordo com regras contrárias ao que o resto da sociedade impõe, não criando amarras ou vínculos empregatícios, apenas curtindo pequenas anarquias cotidianas.

Esse filme foi uma espécie de epifania pra mim, já que Enid sempre foi a minha voz escondida. Ver o filme e identificar-me ali como aquela garota que se pretende rebelde é das coisas mais fáceis do mundo; triste é encarar o desenrolar e ainda assim continuar me vendo ali (acreditem: em alguns momentos, até pra mim isso é difícil...). Apresentado o contexto, tudo ficou claro né?

No fim das contas, acho que foi bom dar essa enrolada pro texto de 'Cowboys & Aliens' sair, já que o filme não tem muito o que vender mesmo. A burocracia é a chave: do inventivo diretor Jon Favreau (dos filmes do 'Homem de Ferro') aos astros Daniel Craig e Harrison Ford, tudo é mais do mesmo. Óbvio, temos uma premissa original em mãos... afinal, quantas vezes voces imaginaram o velho oeste tendo o céu rasgado por naves interplanetárias? Mas talvez tenham confiado demais na ideia, e esquecido que a execução tem de estar a altura da matéria-prima.

A trama básica em si já é gasta: um homem desacordado é levado para uma cidade sem lei do oeste americano e aos poucos se dá conta do desaparecimento pela esposa, que parece ter sido sequestrada. Claro, nessa cidade tem um manda-chuva, cujo filho é o cão chupando manga que barbariza no local. Em meio ao caos de muitas informações sendo enviadas ao espectador (ainda temos a crise no casamento do dono do bar, e o xerife que cuida do neto após a morte da filha), os tais aliens do título baixam mostrando que "estão entre nós há muito mais tempo do que imaginávamos". Todas as diferenças terão de ser diminuidas em prol da luta maior, que é contra esse vilão em comum a todos, literalmente. E todos que se olhavam torto passam a se tratar como velhos companheiros, num passe de mágica.

Apesar da aparente rabugice no meu texto, não desgostei do filme. Diverte, tem ótima utilização de efeitos especiais e sonoros, um elenco atraente; ou seja, com tudo no lugar. Mas esperava-se muito mais das credenciais dessa equipe (inclusive o produtor é um tal Steven Spielberg!) do que um filme onde cada passo dado já se previa meia hora antes. Ou seja, é um zero a zero com gosto de derrota.

NOTA: 5,0.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Tríade - Parte I

Quando eu penso em 2011, cinematograficamente falando, muitos títulos me vêm a cabeça. Quem é meu amigo sabe, não sou saudosista; obviamente que há temporadas melhores que outras, mas não sou de reclamar, mas sim de encontrar o melhor em cada uma delas. Se a quantidade aumenta ou diminui, isso nada tem a ver comigo. Mas dificilmente alguém me verá lamentando saudosamente outros tempos, pelo menos com o cinema (com todo o resto, sou assim mesmo... hehehehehehe).

E faltando quatro meses pro ano terminar, já tendo mais ou menos a noção dos possíveis filmes que ainda verei estrear até o 31 de dezembro, e levando em consideração que apenas as estreias comerciais que acontecem entre o 1o. de janeiro e a data já citada são consideradas em minha lista prática  (lista prática = como não veremos tudo na velocidade com que estreia ao redor do globo, prefiro contabilizar de acordo os filmes forem estreando na nossa província). Essa lista um dia vou batizada de 'Palma do Frank', mas confesso que do festival do balneário francês ela tem bem pouco, fora o bom gosto; é sim uma mistureba de todas as premiações que acompanho por aí... mas falo mais dela em dezembro, quando o momento de liberar os resultados chegar.

Esse post na verdade é uma espécie de 'momento Herculano Quintanilha', pois o ano me apresentou 3 obras definitivas, e vejo pouco no horizonte capaz de brigar com eles. Dialogando pouco entre si a não ser no quesito qualidade (minto: 2 deles tem algo em comum sim), são filmes de nacionalidades bem diversas mas que mexeram comigo como nenhum outro esse ano.

Começando pela ordem que "a retina chegou até eles", venho confessar a situação que descrevi acima. 'A Falta que nos Move' chegou até mim sem querer, há quase 2 anos atrás. Seguindo os amigos Erika Liporaci e Andy Malafaia, fui até a sessão da estreia cinematográfica da diretora teatral Christiane Jatahy meio 'na cara e na coragem', apenas sabendo de sua versão teatral e no que consistia sua proposta no palco. Na tela, um ator querido como Pedro Brício divide com Kiko Mascarenhas, Cristina Amadeo, Marina Vianna e Daniela Fortes uma experiência. Ao esperar um sexto convidado para uma ceia de Natal improvisada, esses 5 amigos (apenas Pedro, Kiko, Cristina, Marina e Daniela) fazem o que parece pouca coisa, num resumo: eles trocam. Experiências, vivências, frustrações, acusações, insultos, carinhos, afagos, impressões da vida. E da arte. A arte.

'A Falta que nos Move' é sobre arte. O cinema como arte, a vida como arte. Onde começa o cinema e termina a vida é algo que nunca me atrevi questionar. A magia do filme está em todo lugar: na paixão de Dani, na depressão de Cris, na liderança de Marina, nos irmãos de Kiko e Pedro, na fotografia do mestre Carvalho, na soundtrack absurdamente deliciosa, na misé-en-scene de Chris Jatahy, com cara de veterana, ao menos dos sentidos e das emoções. Tudo é cinema na tela, e fora dela tudo é encanto. Intepretações estupendas fazem parte do pacote, e Brício particularmente é um gênio. Um filme inesquecível, sobre como arte imita vida, tal qual 'Cópia Fiel'.

(continua...)

Setembro é a continuação de agosto

Agosto nasceu sob o signo de ser vilipendiado. Todos vaiam, todos xingam... "mês do desgosto", "mês do cachorro louco"... o pobre do oitavo mês nasceu pra apanhar. Confesso que, magicamente ou não, sempre reparo no meu estado durante esse período, de tanto que comentam dele. De uns tempos para cá, reparo que todos parecem ter razão, e uma aura negativa parece cercar esses 30 dias.

O problema de 2011 é que o ano tá contaminado, e os meses ruins parecem dar cria. Logo, chegamos a setembro, e eu particularmente não aguentava mais agosto. Pois hoje é apenas o dia 7, e eu já quero voltar a agosto. Faltando ainda 3 semanas para o fim do período, e eu estou preferindo ser açoitado diariamente a ter que encarar os próximos dias. O dinheiro acabou, estou estressado, adoentado com uma dor de garganta que não me abandona, e me aborrecendo com facilidade espantosa.

A proximidade das férias me deixa ansioso e mal humorado ao mesmo tempo, querendo que ela chegue para detonar a metade dos problemas atuais. Vocês sabem que comigo, férias significa também Festival do Rio, e minha excitação deveria estar em grau máximo. Mas o entrave que me fez sair do site para onde escrevia, além de me fazer criar esse espaço, pode ter uma consequência nefasta: minha credencial de imprensa pode estar com os dias contados. Correr atrás dela será muito mais importante esse ano, quando estou assim nessa vibe 'borocoxô'.

Tudo passa? Sim. O mundo dá voltas? Dá. Minha mãe será solicitada a qualquer momento para me ajudar monetariamente? Provavelmente. Mas no momento eu quero mesmo é que setembro vá pro mesmo lugar onde já está agosto: o grupo das páginas viradas da folhinha.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Promessas de Campanha

Bem, esse é como se fosse um 'post de abertura - parte 2', mais elaborado. Preciso, quero e vou escrever muito aqui, ao mesmo tempo que preciso (preciso?) justificar aos chatos que provavelmente virão perguntar o motivo do blog (simples: preciso desabafar!). Mas é fato que preciso me familiarizar com o 'projeto', com a estrutura, com o que pretendo escrever e de que forma isso chegará até vocês. Enquanto isso vou dando demonstrações do que poderá ser encontrado no blog sempre que acessado.


* Cinema - todos sabem que há mais de quatro anos tenho livre acesso às estreias cinematográficas antes mesmo delas acontecerem, as chamadas 'cabines de imprensa'. Pois garanto que todo filme assistido, seja um dos próximos lançamentos da Sétima Arte, seja uma novidade em DVD, seja um dos desprezados da telona que somente veem a cor do nosso sofá, ou um clássico da cinemateca mundial, será livremente dissecado aqui. E nem adiantem chiar, porque tudo que vem a reboque do cinema também dará as caras. Ou seja, se preparem para ler muito sobre apostas do Oscar, o tilintar das bilheterias, os grandes festivais, tudo isso e mais um pouco.

* Ó, vida minha... - se quiser saber das fofocas de bastidores de tudo que rolar comigo, esse será o lugar. Nunca tive a língua pequena mesmo, e não será agora. Se chorei ou se sorri, tudo isso passará por aqui (te cuida, tio Roberto... hehehehehe). Lógico, se preparem pra esbarrar com muita metáfora e muita 'viagem de ácido', já que continuo com meu lema "só abro a boca quando eu tenho certeza". Trocando em miúdos, se eu transar, pode sair aqui; se eu conhecer alguém, pode sair aqui; se eu namorar... só sai aqui quando eu estiver namorando. Tudo com relevância... e o namoro, quando ele de fato for um.

* Ode to my family - pode ser que eles apareçam, mas não serão protagonistas, creio... possivelmente breves e marcantes participações especiais.

* Babá eletrônica - se eu cresci sendo adestrado pelo quadrado iluminado, óbvio que ele aparecerá por aqui. Mas se há 10 anos atrás, ele estaria na fila da frente dos posts, hoje digo que a televisão não será tão representada quanto poderia ser. Perdi o interesse, o tempo, e perderam também a qualidade, sinal que muito mudou. A TV e eu, que eventualmente ainda nos encontramos; quando acontecer, vocês saberão.

* Goodfellas - bem, cito um a um, ou não cito ninguém hoje? É isso, não cito ninguém. Mas ei, se você se aproximou, já era. Sejam meus 'béstifrêndis', sejam pegações da noite, o povo do trabalho, a galera que esbarro nas nights da vida... você pode ser citado aqui sim. Se um capítulo nosso (ou só seu, porque não?) ganhar os holofotes a nível de cegar, ele estará aqui. E se meu amor por alguém especial estiver prestes a explodir, esse será o caminho.

* My Blueberry Nights - todos sabem que passo horas a fio por aqui, madrugada adentro (como agora). Se isso por si só não render grandes posts, não sei mais o que possa. Dica: não duvidem que minhas elocubrações noturnas acabem nesse espaço.


Ou seja, entenderam que vale tudo. Sem regras e sem amarras, tudo vai aparecer aqui, como tinha citado no post de abertura. Alguma forma isso tudo vai ganhar, aos poucos e sem obrigação. Então é isso... o espaço para meu vômito verbal foi aberto, e a viagem ao fantástico mundo do Frank está apenas começando.

Inté!

Tudo tem um começo...

Bem, cheguei. A maioria vai dizer que demorei para chegar... é verdade, demorei. Mas espero ter sempre motivos para voltar aqui, diariamente ou não. Falar... escrever... bem, aos poucos vocês vão perceber como gosto disso; meus amigos já sabem como isso é verdade. Falo, falo, falo... escrevo ainda mais. Espero que as ideias se organizem e se relacionem. Vou fazer de tudo para distrair, informar e criticar (afinal, esse sou eu); com isso, peço licença para de vez em quando, ficar triste. E informar vocês disso, de tudo isso.

Hoje não, hoje é dia de festa. Se preparem... o Ghost World chegou.