sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Voz de Enid: "Amores Imaginários"



O cinema de Xavier Dolan chegou pra mim como burburinho, há mais de 2 anos atrás, num desses Festivais do Rio. Um grande amigo falou que 'não deveríamos perder "Eu Matei Minha Mãe", que tinha causado sensação em mostras paralelas do Festival de Cannes daquele ano'. Confiando no tal amigo, fui sem pestanejar ou ao menos ler a sinopse. Em todos que fizeram como eu naquele 2009, o mesmo impacto: aos 20 anos, um jovem canadense estreava na direção, no roteiro e a frente das câmeras, surpreendendo triplamente. Sorte de principiante, gritaram muitos... no entanto, ninguém ficou indiferente àquele soco no estômago da juventude, que Dolan vivia, acarinhava e esmurrava ao mesmo tempo, e deixando a cara pra bater de forma clara.

Um ano depois, no Festival do ano passado, Dolan não é mais um estreante e essa estreia de hoje foi uma das grandes procuras de 2010 da mostra carioca. Sinal que o franzino rapaz tinha deixado uma marca tão indelével que nem as poucas nervuras que seu filme provoca no celuloide impresso são capazes de estancar o rio de saídas visuais marcantes, tanto no anterior quanto principalmente nesse novo, que ainda fala sobre si mesmo, mas que abre seu escopo para o resto dos seres, talvez sendo esse seu maior acerto.

Com um domínio superior de linguagem cinematográfica e referências a grandes clássicos do passado (o mais explícito deles, o seminal Truffaut de "Jules e Jim"), Dolan quer mostrar aqui que, se ainda não tem todas as manhas e escolhas acertadas que transformam um mero diretor numa referênci, ele já se arrisca e ousa de maneira surpreendente sem perder a identidade e signos que ele faz questão de criar e revisitar.

Os amigos Francis e Marie (a ótima Monia Chokri) levam uma vida de pura observação do mundo à sua volta, sendo ácidos, modernos, estilosos e moderninhos, tudo a mil por hora. A entrada do belo Nicolas (Niles Schneider) em cena os subverte, transformando essa dupla descolada em meros joguetes de situações ultra banais e corriqueira, arrancando-os de suas zonas de conforto e os jogando no lugar mais improvável possível: o mundo real. A partir da paixão avassaladora que ambos passam a nutrir pelo rapaz (sem nem ao menos saber sua preferência sexual), esse casal de amigos começam a se comportar das mesmas formas babacas e muito humanas que eles sempre fizeram questão de evitar e aviltar. E do conflito iminente, é que o mundo profundamente cor-de-rosa de ambos passa a ficar cada vez mais natural e igual ao de todos nós.

Para todo mundo que se apaixonou e se meteu em ridículas roubadas para provar essa paixão, uma grande pedida; para o grupo de jovens que nunca teve contato com sentimentos mais profundos ou se dá conta deles pela primeira vez, esse é o filme; para quem tantas vezes não soube o que fazer diante de algo totalmente novo e surpreendente, não perca. E se você apenas adorou "Eu Matei minha Mãe", não tenha reservas e se jogue na deliciosa trilha sonora e na explosão de sentimentos de "Amores Imaginários".


NOTA: A-

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