quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Voz de Enid: 'Confiar'

Quem diria, David Schwimmer como diretor. Lá atrás, quando era apenas o Ross de 'Friends', ele chegou a dirigir inúmeros episódios do seriado, e com certeza foi por lá que nasceu o gosto pela coisa, já que ao final da série, ele continuou no ofício por outras séries. Depois de se aventurar por alguns filme para TV, ele estreou no cinema com 'Maratona do Amor', uma comédia britânica super simpática com Simon Pegg. Enquanto ele esteve no terreno da comédia, na qual ele viveu por 10 anos ininterruptos, tudo estava dentro do conforme esperado, sem grande imaginação. Mas eis que surge no caminho esse drama/suspense sobre pedofilia nos tempos da internet; mais antenado impossível, o problema é o desenrolar.

Talvez outro grande problema a 'Confiar' é ter vindo após 'meninamá.com', que talvez seja definitivo sobre o assunto sob praticamente todos os pontos de vista. Como avançar sobre aquele filme? Talvez concebendo uma direção dinâmica e moderna seja uma resposta, e é por aí mesmo que Schwimmer opta, acertando nas primeiras escolhas estéticas, atraindo inclusive o público jovem, que é o alvo principal da produção creio eu. A partir do momento que o conflito é estabelecido e o filme sai da seara do suspense, toda a psicologia do filme se enfraquece, e o filme ganha ares de documentário institucional para escolas e hospitais.

O conflito principal do filme é vivido por Annie (Liana Liberato, uma novata segura num papel bem difícil), que é uma adolescente como tantas outras. Aos 13 anos, ela tem pais  (Clive Owen e Catherine Keener) que a amam, amigas da sua idade, pratica esportes, é boa aluna e não vive sem a internet. Passeando por sites de amizade virtual, acaba conhecendo Charlie, um menino pouco mais velho q ela, entrando na faculdade e logo ambos estão encantados virtualmente. Aos poucos, Charlie ganha a confiança de Annie e revela ter mais que os 15 anos que disse a princípio. De 15 a 19, de 19 a 25, e é marcado um primeiro encontro entre eles, e... Charlie na verdade tem mais de 35. Apesar do desconforto, Annie acaba cedendo a todas a investidas de Charlie, e ambos acabam mantendo relações sexuais. Ao ver o que considera ser 'o amor de sua vida' desaparecer, Annie se desespera e desencadeia um processo na qual sua família irá desmoronar diante do abuso cometido contra ela, da qual a própria não acredita ter sofrido.

Complexo em suas teorias e ao mesmo tempo bem simplório no desenvolvimento das mesmas, o filme desperdiça o excelente início ao fugir de toda e qualquer polêmica maior, deixando a discussão em torno do filme ganhe bem mais profundidade que o mesmo; aí é hora do público saber interpretar e diferenciar. Óbvio que o tema é importante, merece ser abordado e precisa sim cada vez ser mais mostrado, exatamente para servir de alerta para as coisas monstruosas que vem sendo cometidas. Mas a burocracia não deve ser a saída para qualquer tipo de cinema que for, por mais bem intencionado que ele seja.

Alheios a isso, Owen, Keener e Viola Davis (como uma psicóloga que orienta Annie após o ocorrido), estão irrepreensíveis e deixam claro que o talento pode vazar mesmo sem a permissão do material, e acabam equilibrando um filme que no fim das contas fica no meio do caminho mesmo.


Título Original: Trust. Direção: David Schwimmer. Roteiro: Andy Belling & Robert Festinger. Elenco: Clive Owen, Catherine Keener, Liana Liberato, Viola Davis, Jason Clarke, Chris Henry Coffey. NOTA: C-

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