terça-feira, 4 de outubro de 2011

Enid no Festival do Rio 2011 - Cabin Days III:

Mais um dia, hoje com ameaças de chuvas e confusão com o início das vendas dos ingressos na Central. Os motivos? Os de sempre: não-liberação da maioria dos títulos, falta de sincronia entre informações na internet e na Central, ausência de um responsável capaz de responder às mais básicas questões. Mas é como eu sempre digo: é o Festival do Rio, galera. O conheço não é de hoje, e durante todos esses anos sempre houveram derrapadas; nada tira seu brilho, no entanto. Os filmes são as vedetes e sua principal razão de existir, e eles continuam aqui de uma forma de outra, demorando ou vindo correndo. Paciência a todos que tudo sempre acaba se ajeitando. Quanto aos filmes de hoje, foram eles:


* Bonsai:




  Cristán Jiménez dirigiu um filme que estreou somente em agosto no nosso circuito que tinha bastante a ver com esse seu novo filme em matéria de atmosfera/estado de espírito ('Ilusões Óticas'). Se levarmos em consideração que esse filme é melhor que o anterior, já dá pra animar e torcer pelo rapaz. Levemente parecido em tons com 'Na Cidade de Sylvia' (esse sim um dos grandes filmes latinos do cinema recente), esse 'Bonsai' fala acima de tudo sobre a pior das solidões: aquela que aparece mesmo quando não estamos sós. Quando nada faz sentido, quando amamos alguém sem saber porque, quando nossas atitudes tendem mais a responder aos outros do que simplesmente criar uma personalidade própria. Quando tudo dói tanto a ponto de qualquer passado ser melhor do que qualquer presente.

  Da abertura ao término, nós sabemos: Julio está só. E assim vai continuar. Na verdade, essa informação é dada no filme de maneira muito cruel e impactante, mas nas entrelinhas é isso. Durante a produção, vemos Julio hoje e 8 anos atrás, quando conheceu Emilia e com ela viveu um romance. Hoje eles não estão mais juntos, e Julio namora Barbara. Será que namora? Bem, é mais parecido com uma vontade de estar junto de outra pessoa, e ambos compartilham isso. Mas Julio não esquece Emilia, embora não a veja mais. Julio deve sentir falta dos 8 anos que passaram, e que pra ele tanto fizeram. O tempo não passou pra Julio, ou passou rápido demais. O dia de hoje é idêntico ao de 8 anos atrás. E o pior é que cabe somente a ele sair desse isolamento que ele mesmo criou, vivendo à margem da própria introspecção.

  Daqueles filmes que entram e só saem da cabeça meses depois, na verdade eu preferia de mais um tempo para digeri-lo; fazem só 8 horas que ele acabou e eu ainda estou descobrindo-o. Jiménez, comigo, ganhou um baita cartão que o leva para a próxima fase do jogo após esse triste estudo sobre a vida de alguém que corre avidamente para dentro de si mesmo. O intérprete Diogo Noguera o ajuda a contar essa história de forma intensa e dolorida, que marca a gente sem que nem tenhamos notado, e faz com que a lentidão do ritmo pareça apenas um detalhe dentro de uma produção que (como já falei) não sai da cabeça facilmente.


NOTA: A-

* Tiro de Pedra:




  Um segundo filme latino, esse aqui vindo do México, e uma segunda ótima interpretação, no mesmo dia. Aqui, Gabino Rodriguez nos prende a seu rosto bastante peculiar e move o filme do início ao fim, sendo presença em cena em 100% do tempo. Vencedor de inúmeros prêmios no ultimo Festival de Gramado (incluindo direção e roteiro, para Sebastian Hiriart, além de ator para Rodriguez - que apesar de ótimo, não merecia ter levado vencendo sobre Javier Drolas, estupendo em 'Medianeras'), não sei se entendo seus prêmios, tendo em vista que Hiriart na ânsia de parecer 'verdadeiro' nos vende um herói, pelo qual rapidamente desistimos de torcer.

  Jacinto Medina é uma espécie de pastor de cabras e ovelhas, e entendemos perfeitamente que ele não se sinta feliz. Sabe-se lá porque ele é obcecado por trens (ou apenas pelo que corta sua cidadezinha no interior do México), mas está cansado e quer ir embora pra longe. Tudo isso se justifica (ao menos na cabeça dele) ao achar um chaveiro com uma inscrição do Oregon, nos EUA. Daí ele cisma que tem de ir embora, atravessar a fronteira e chegar até lá, com uma convicção genuína. E ele parte pra lá fazendo besteira em cima de besteira, sendo roubado (mas também roubando), ora como vítima, ora como algoz de si mesmo. Se vai chegar ou não, será que importa? Afinal, o que esse homem pretende ao chegar lá?

 Como nem o diretor parece defender seu anti-herói, nos cabe ter muita raiva da ingenuidade do rapaz, que se traveste de esperteza sempre que conveniente. Já que apenas Rodriguez parece interessado em dar ao personagem dignidade absurdas (apesar da direção bastante feliz de Hiriart) e o roteiro segue sem saber dar um sentido a esse homem e sua busca, fico na minha e também prefiro lamentar não ter visto um filme melhor com personagem tão interessante.


NOTA: C-

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