sábado, 1 de outubro de 2011

A Voz de Enid: 'Contra o Tempo'

Se eu começasse uma crítica há 3 anos atrás citando que o filme em questão era dirigido pelo filho do David Bowie, pelo menos apreensão eu sei que iria causar. Hoje, Duncan Jones não causa mais esse tipo de reação. Em lua de mel com cinéfilos dos quatro cantos, Jones é filho do 'camaleão do rock' e tem não apenas um, mas 2 grandes filmes no currículo. O primeiro deles não lançado nos cinemas brasileiros, nunca tive a oportunidade de escrever spbre 'Lunar', uma das ficções científicas mais instigantes de 2 anos atrás, numa temporada que também trazia para o público os imensamente badalados 'Avatar', 'Distrito 9' e o remake de 'Star Trek'; reluzindo da mesma forma que seus irmãos milionários, 'Lunar' trazia um homem em cena (o sempre excelente Sam Rockwell) e muitos questionamentos, envolvendo clonagem e os limites da ética dentro da ciência.

De alguma maneira, esses temas são retomados em 'Contra o Tempo', que durante muito tempo assustou os cinéfilos brasileiros, que jurava ver nele o mesmo destino do filme anterior de Jones por aqui, indo amargar as prateleiras das videolocadoras sem dar um pulinho nas salas de exibição. Depois de atrasos que passaram por abril, junho e julho, entrou em cartaz ontem essa produção que, se não repete o brilhantismo do primeiro, ao menos deixa claro que Jones não chegou pra brincadeira no circuito. E mais: precisamos mesmo aturar 'Transformers', 'Thor', 'Lanterna Verde' e blockbusters similares, quando esse filmaço de ação e suspense não nos trata como retardados?

A trama do filme só parece complexa, mas assim que todas as dúvidas vão deixando a cabeça do protagonista, o mesmo acontece com a gente. Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) acorda de um cochilo num trem em movimento. A sua frente, uma mulher (Michelle Monaghan) que ele não conhece dizendo coisas que ele não entende. O que ele faz ali? Em sua última lembrança, o sargento Stevens estava numa missão no Iraque. De repente, uma explosão e o trem vai pelos ares. Stevens então acorda numa situação ainda mais bizarra, dentro de uma cápsula e sendo acordado por uma pequena tela na sua frente. De dentro dela, imagens da sargente Goodwin (Vera Farmiga) tenta explicar sua situação: Stevens está ali servindo ao governo americano, na condição de cobaia de um experimento que liga a mente de pessoas a beira da morte através de uma fenda no tempo que ocorre nos últimos 8 minutos de vida dela. Stevens é o agente desse experimento, e precisa continuar indo quantas vezes forem necessário até aquela mesma situação pré-explosão do trem, e durante apenas 8 minutos descobrir quem é o terrorista responsável pelo ataque, que está dentro da locomotiva.

Parece complicado, né? Eu sei, na descrição parece mesmo um bicho de sete cabeças. Mas acreditem, na tela funciona que é uma beleza. Num esforço conjunto de roteiro, montagem, trilha sonora, um minúsculo elenco (além dos citados, temos também Jeffrey Wright) e direção precisa, o filme é um blockbuster de extrema qualidade, como dificilmente temos visto. Por que? Entre outras coisas, porque não subestima a inteligência de ninguém, além de nos deixar sem fôlego do início ao fim.

Enxuto como poucos (apenas 90 minutos de filme!) e com uma história rica pra contar, Jones mais uma vez aposta na humanidade que pode escapar assim que a ciência começar a ditar ordens entre os homens. Não satisfeito de entreter e fazer pensar, o filme ainda emociona e chega ao cúmulo de surpreender, com um desfecho bombástico que poucos estão pegando (observo entre os que já assistiram essa falha que pode mesmo passar despercebida). Ou seja, um filme quase perfeito, uma diversão de primeira, e um nome que já não depende do pai para chamar a atenção.


NOTA: B+

Um comentário:

  1. Atenção que meu comentário conterá spoiler. =)

    Frank, desculpe, mas a partir do momento em que se impede a morte do gatilho do experimento (o homem no trem), Colter Stevens já não tem mais para onde ter sua consciência levada e se sua consciência não tem para onde ir, já que o gatilho deixou de existir, o trem vai explodir, invariavelmente, e não haverá mudança nos eventos.

    A trama pode ser boa, a direção excelente, o diretor ter mil qualidades, mas esse problema do roteiro, essa teoria fisico-quântica-cabeça-intelectual-filosofal gera um terrível loop temporal que - no meu entender - matou o filme, já que é a base de sua narrativa.

    Um beijo.
    =D

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