segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Enid no Festival do Rio 2011 - Dia 9:

Um dia que começou ruim e terminou pavoroso; filmes completamente descartáveis foram assistidos. Porque não fiquei em casa no sábado? Bem, tudo acontece por um motivo... e agora estou aqui, sem minha credencial. O "Dia 10" não existiu, me joguei na cama... mas vai que algo ainda muda? Por enquanto, estão aqui minhas últimas impressões sobre o Festival do Rio esse ano (e de quatro filmes que tentam concorrer ao Oscar de filme estrangeiro do ano que vem):

* A Guerra está Declarada:


É muito bom ver um filme corajoso e diferenciado sobre um assunto que todos já trataram (os americanos então...). Como tudo já foi dito, e sempre das formas mais piegas possíveis, quando vem uma lufada de novidade tudo é tratado como um 'grande acontecimento'. Vejam, o filme não é perfeito... mas observo a escolha da França para que ele seja seu representante entre os filmes estrangeiros que tentam uma vaga no Oscar do ano que vem das atitudes mais maduras e acertadas que eles tomaram ultimamente. Trata-se do segundo filme de alguém que não está sossegado, e que não vai parar por aqui.

No caso, um casal. Valérie Donzelli e Jérémie Elkaïm são roteiristas do filme, e apenas ela a produtora. Também ela assina sozinha a direção, mas como ambos são também os protagonistas do filme e um casal também na vida real, dificilmente acreditamos que a direção do filme não tenha passado em algum momento pela mão de Elkaïm, até porque o filme mostra uma pequena parte da vida deles. O encontro romântico de Roméo e Juliette, um casal a quem não restava nada a fazer que não se apaixonar perdidamente um pelo outro (por infinitos motivos que o filme mostra nos brilhantes 10 minutos iniciais). Logo, vem um bebê não planejado, e eles viram uma família da forma que dá. Felicidade é a palavra de ordem, até o choque máximo: Adam tem um câncer no cérebro. Como um casal jovem e bonito se porta diante de tal monstruosidade do destino? Como lidar com um filho de 3 anos que pode morrer a qualquer momento?

O filme é dramático quando não tem como deixar de ser (afinal, voces leram a trama?), mas o esforço hercúleo de Donzelli e Elkaïm em não deixar essa situação se dramatizar ao extremo valem muitos aplausos. E na medida do possível eles conseguem transformar o que o cinema americano venderia como "a morte em vida", como o amadurecimento de duas pessoas numa fuga para não enlouquecer. Não é a toa que a foto acima é o poster oficial do filme e sua maior representação fotográfica. Afinal, a dor sempre vai existir; o que muda é a forma com que cada um de nós lida com ela.


NOTA: B-

* O Abrigo:


Michael Shannon não começou sua carreira semana passada. Com mais de uma década de serviços prestados a indústria cinematográfica, seu rosto marcante e expressões precisas demoraram a encontrar eco em Hollywood. Mas de uns tempos para cá seu barco começou a remar mais forte, talvez graças a sua performance arrasadora em 'Possuídos' (ao lado de Ashley Judd), e logo veio a primeira indicação ao Oscar como o esquizofrênico de 'Foi Apenas um Sonho'. Outras certamente virão, e sua nova tentativa é a bordo desse drama apocalíptico dirigido por Jeff Nichols (que deve ser muito amigo de Shannon, tendo em vista que ele é o protagonista de seus 3 filmes).

O filme mostra a vida de Curtis, um pai de família honesto e trabalhador que está tendo uns sonhos mais que estranhos. Nuvens de tempestade pavorosas se formam no céu, uma chuva viscosa e de tom marrom cai do céu, e revoadas de pássaros sobrevoam sua casa: assim são os sonhos. Logo, Curtis começa a desconfiar que algo de ruim possa acontecer a sua cidade, e na tentativa de proteger a esposa e a filha, ele reativa um abrigo nuclear instalado em seu quintal, transformando sua vida numa paranoia crescente e sem saída, que pode destruir seu casamento e sua sanidade.

O filme é um 'tour de force' de Shannon, em ótima composição. A seu lado, Jessica Chastain (de 'A Árvore da Vida') também mantém o bom ano que vive. Já o filme não é muito imaginativo, além de ser travado e bastante lento. Segurando as pontas, acompanhamos o ótimo ator que protagoniza o longa na torcida que ele consiga momentos de ainda mais brilho nessa carreira ascendente.


NOTA: C+

* Beleza:


Candidato ao Oscar 2011 pela África do Sul. Vencedor da 'Queer Palm' no Festival de Cannes desse ano (o prêmio dado ao melhor filme de temática gay da mostra). Com essas duas responsabilidades nas costas, o diretor/roteirista Oliver Hermanus chega no circuito cinematográfico mundial querendo mostrar serviço. Não é que consegue? Se falta brilho e novidade a seu filme, não lhe falta garra e a certeza de estar fazendo o melhor possível, além de um grande ator como Deon Lotz protagonizando.

O filme mostra a vida pacata de François, pai de família com uma bem sucedida madeireira que esconde o que pra ele é um terrível segredo: ele é gay. Com a libido em polvorosa, François tem um grupo secreto de homens maduros e todos com "algo a perder" como ele, que se encontram de tempos em tempos para colocar seu desejo em dia. Ao colocar os olhos em cima do filho do melhor amigo, François enlouquece de tesão pelo rapaz e passa a criar armadilhas para encontra-lo e criar qualquer vínculo que seja com ele. Aos poucos, essa obsessão vai fazer com que esse homem perca todas as amarras e caia cada vez mais nas armadilhas que ele mesmo cria.

Graças a Lotz e sua expressão apreensiva e tensa, o filme se segura até o fim. Com uma trilha sonora pontual, adequada e muito interessante, 'Beleza' pode até não ter muitas chances na disputa do Oscar desse ano, mas não lhe falta a dignidade que muitas vezes o assunto custa a ter. Apesar do tema nada novo, o filme não aborrece e prende até o fim.


NOTA: B-

* Superclássico:


A Dinamarca acabou de ganhar o Oscar de filme estrangeiro (injustamente, já que 'Incêndios' e 'Kynodontas' dão 20 banhos em 'Um Mundo Melhor'), e volta a tentar concorrer da forma mais acertada possível, que é fugindo de qualquer maneira do vencedor passado. Com a certeza de que a vitória esse ano tira 80% de uma nova indicação tão rápido, os dinamarqueses decidiram apostar no oposto que mostraram esse ano, com essa comédia romântica divertida e leve, que poderia muito bem ter sido produzida na América.

O filme mostra o desespero de Christian (o ótimo Anders W. Berthelsen, de 'Italiano para Iniciantes') ao ver que sua mulher Anna (a bela Paprika Steen) pediu o divórcio e está de casamento marcado com um astro do futebol argentino. Como Anna agora mora na América do Sul (por também ser empresária do jogador), Christian vai com o filho Oskar (Jamie Morton, super expressivo) para a Argentina com a desculpa de assinar os papéis do divórcio, mas na verdade ele quer uma última chance de reconquistar a ex-mulher. Se metendo em confusões cada vez maiores num país que não é o seu, Christian vai perceber que nem sempre o que se quer é a melhor pedida.

Sem grandes pretensões, o filme agrada e faz rir com seu humor fácil e sua trama rapidamente esquecível. Fica aquela 1 hora e meia de diversão (com um ótimo ator a frente do elenco), mas toda vez que o filme tenta alçar um voo maior, o roteiro bloqueia suas intenções. Pra divertir, distrair e esquecer em seguida.


NOTA: C+

* Happy Happy:


A Noruega vem com essa produção de humor mais refinado a princípio, mas que acaba caindo em muitos lugares comuns durante seu desenrolar. O filme ganhou esse ano o prêmio do juri no Festival de Sundance desse ano, além do troféu de melhor ator no 'Oscar norueguês' para Henrik Rafelsen (o cara da foto acima). Ele faz parte de um quarteto principal muito afiado, que mostra 2 casais vizinhos interagindo cada vez mais.

Sigve e Elizabeth se mudam para a frente de Kaja e Eirik e passam a conviver uns com os outros. O filho de Sigve e Elisabeth é um menino negro adotado, que acaba sendo sutilmente escravizado pelo filho do outro casal (em cenas tão bizarras quanto engraçadas). Os pais dos meninos, que estão em conflito velado, acabam se envolvendo num swingue silencioso e o romance de Sigve e Kaja parece que irá engrenar a qualquer momento. É quando muitos segredos vem a tona, e o quarteto irá tomar as decisões que mudarão essas vidas definitivamente.

Um filme que poderia ser muito melhor do que acaba sendo, 'Happy Happy' perde muitas oportunidades de marcar cinematograficamente, já que seu humor ácido inicial vai dando lugar a algo mais convencional, cena a cena. Não impede, no entanto, de ser uma agradável surpresa (bem) vinda de um lugar muito frio.


NOTA: C+

Nenhum comentário:

Postar um comentário