sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Enid no Festival do Rio 2011: Noite de Abertura

Cá estamos abrindo mais um Festival. Excitação. Motivação. Alegria. Êxtase. Vibração. Mil sentimentos misturados ao longo das próximas duas semanas. Breve, a elas irão se juntar o cansaço, o desânimo, o desespero e a vontade de sair correndo nu pela rua. Por enquanto, é só coisa boa e vontade de mergulhar em rolos e mais rolos de filmes. E quando já dá de cara com Alessandra Negrini cheia de gás para 'Abismo Prateado', com Dira Paes e seus olhos reluzentes, com a belíssima Natalia Dill, com um recuperadíssimo Marcos Paulo, com Ney Latorraca e seu humor sagaz, com toda essa gente prestigiando um tapete vermelho de 'responsa', aí é que vem tudo em dobro mesmo. E ao avistar muso e musa do grande responsável pela abertura do Festival esse ano, aí é alegria pura. Marisa Paredes e Caetano Veloso, em pura graça... não é todo dia que vemos dois grandes artistas, amigos pessoais de Pedro Almodóvar, juntos em congraçamento. É isso, meu povo... é o Festival do Rio 2011 que está começando.

* A Pele que Habito 


Que responsabilidade caiu no colo de Pedro Almodóvar, abrir um Festival de cinema com todos os olhos virados para ele. Qualquer que fosse a sua situação no Festival, ele já seria visado e procurado; esse ano, com essa posição, com a volta de Antonio Banderas, com um filme repleto de mistério e um clima de sedução constante (como tem sido quase sempre na obra almodovariana), o filme deverá ser a vedete do ano mesmo. É merecido? Sim e não. Sim, porque o gênio contemporâneo espanhol entrega um filme maduro, com posicionamento firme de ideias, um produção superior a 'Abraços Partidos', que tinha decepcionado até mesmo fãs, porque seu tema é claro e ele vai além do limite para enfocá-lo; não, porque ainda não foi dessa vez que voltamos a encontrar o Almodóvar livre de 'Volver', o Almodóvar apaixonado de 'Fale com Ela', o Almodóvar dando show de cinema de 'Má Educação', o Almodóvar emocionante de 'Tudo sobre Minha Mãe'... enfim, tem um Almodóvar genuíno aqui, mesmo que com tintas desiguais.

A vida do doutor Robert Ledgard (Banderas) entrou em colapso após inúmeras tragédias familiares, e hoje em dia esse renomado cirurgião plástico se dedica a uma única paciente (a inacreditavelmente linda Elena Anaya) internada em sua clínica/casa. Contando com a ajuda constante da governanta Marilia (Paredes), Robert deixa correr em paralelo um estudo seu sobre restauração de tecido humano artificialmente, e que no início do filme tem suas pesquisas negadas por um grande diretor de medicina espanhol. Cada vez mais obcecado com a mulher que espiona em sua clínica, numa espécie de cativeiro de intenções delicadas, aos poucos vamos conhecendo o pasado recente de Robert, e o que o levou a espiral de acontecimentos de hoje, que não vale a pena levantar nenhum detalhe por aqui, sob o risco de revelar algum ponto decisivo.

O filme marca o retorno de Banderas às lentes de Almodóvar após 20 anos (o último tinha sido 'Ata-me!'), e o astro está em grande forma dramática. O mestre, no entanto, cria um roteiro (baseado no livro 'Tarântula', do francês Thiery Jonquet) que mostra toda a grandiosidade de nefastos sentimentos humanos como a vingança, a obsessão e o amor desmedido. Ao mesmo tempo que arranca do texto essa clareza de intenções, mais uma vez esquece de dar forma refinada a algumas cenas, se extendendo em demasia em algumas, e correndo desenbestado por outras. Ainda asim é um trabalho de grande valor (mesmo que cinematograficamente o filme fique devendo a sua trama) porque vemos Almodóvar cada vez mais ciente de sua posição e do que quer como realizador, mandando sua mensagem da forma mais realista e intensa possível, aí sim grandes marcas desse realizador sem igual.


NOTA: B+

E pra finalizar, uma última crítica que ficou faltando das cabines...

* O Dublê do Diabo: 


Como não tenho tempo de falar muito sobre o filme (sory, buddies... prometo me alongar sobre ele em outra ocasião), precisamos ressaltar sobre a compra de um punhado de talento que o diretor Lee Tamahori adquiriu de forma suspeita. O cara neozelandês, que tinha explodido há muitos anos atrás com o visceral 'O Amor e a Fúria', tinha sido cooptado por Hollywood, e nem deixado nem rastro da pólvora que tinha marcado sua estreia. Aqui, ele retoma ao menos o espírito explosivo que vimos lá atrás.

Na vontade de contar da maneira mais tensa possível o relacionamento entre Uday Hussein, o filho mais sanguinário do ditador Sadam Hussein, e o homem que ele escolhe como seu dublê para todas as horas, o pobre coitado Latif Yahia, Tamahori filma o longa de forma febril e repleto de vontade de acertar. Ainda que erre vez por outra, e que se deixe contaminar por um final tipicamente hollywoodiano (com fugas de cavalo, explosões de bombas, e um romance inacreditável), Tamahori tem uma joia a seu favor: o talento tirado absolutamente do nada de Dominic Cooper. Depois de envergonhar diversas vezes, o cara já tinha mostrado que podia ser domado em 'Educação', e aqui entrega simplesmente uma das grandes atuações do ano, simplesmente irretocável como qualquer um dos personagens. Interpretação inteligente e com nuances aos borbotões, cadê o Oscar, que com certeza irá esquecer dele?


NOTA: B-

3 comentários:

  1. Coração meu, nas próximas ocasiões dá pra colocar os títulos dos filmes também no original? Porque eu não tenho no-ção do que sejE O Amor e a Fúria. Merci.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. O título original de uma citação no texto? Ok... Vou tentar sim...

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