quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Voz de Enid: 'A Hora do Espanto'

Quem tem a minha idade ou mais, cresceu vendo e revendo o 'A Hora do Espanto' oroginal, com Chris Sarandon tentando morder o pescoço de seu vizinho adolescente, e Roddy McDowell como um caçador de dentuços medroso. Era um 'filme de terror' dos anos 80, exagerado, bastante ingênuo e cheio de bom humor. Talvez por isso (e porque a censura cretina ainda não tinha voltado de vez a TV) o filme passasse tanto e tão tranquilamente na 'Sessão da Tarde' no início dos anos 90. Tínhamos vampiros engraçados e sedutores também nas novelas ('Vamp'), e ser um chupador de sangue na época gerava pouco duplo sentido.

Fica difícil imaginar um quadro desses nos dias de hoje, ainda mais quando o diretor Craig Gillespie (do maravilhoso 'A Garota Ideal') não economizou na hemoglobina para dar uma coloração toda especial ao seu filme. Com a trama-base a ser seguida do original, o filme foi livre para criar novas referências, novas cenas, novos personagens, e a mesma diversão do original. Esse é apenas o terceiro filme de Gillespie (o primeiro foi o único ruim até agora, 'Em Pé de Guerra', e a culpa nem era necessariamente dele), mas ainda não dá nem pra se animar com ele. O grande mérito de ser maior acerto até hoje veio do roteiro, inclusive indicado ao Oscar. Enquanto observamos Gillespie decidir se mostra sua cara ou não, ao menos ficamos com uma produção que só os chatos fãs do original não irão curtir.

No filme, Charley é um rapaz meio nerd que namora uma gata, e que cresceu ao lado de dois amigos tão nerds quanto ele, um passado que ele hoje renega para não perder o status dentro do novo mundinho de mauricinhos e patricinhas que ele agora frequenta. Ed é um desses amigos, e quando ele vem avisar a Charley sobre o desaparecimento do outro, ele nem dá atenção até pelos argumentos estapafúrdios apresentados. Mas como as suspeitas do ex-amigo recaem sobre seu vizinho, Charley começa a vigia-lo por precaução (e também porque o cara é jovem e sedutor, e sua mãe parece estar caindo na lábia dele). Não demora, e Charley confirma as suspeitas de Ed: Jerry é um vampiro. E agora ele terá de salvar a mãe, os amigos e sua namorada de um perigoso ser do mal, ajudado por um apresentador de programa de terror que ele percebe que não era necessariamente um charlatão.

O elenco azeitado encarou a proposta, e viu o projeto como a diversão bem produzida que realmente é. Resultado: todos se divertindo até a medula. Colin Farrell é um vampirão sedutor de marca maior (e que só cresce no conceito de qualquer amante do cinema com sua versatilidade), Anton Yelchin é outro que gradativamente vai mostrando cada vez mais valores, Christopher Mintz-Plassé continua fazendo seu único personagem (de nerd hilário que se acha muito mais do que é) de forma brilhante, e David Tennant arrasa como o novo Peter Vincent, que agora tem um programa de TV. Toni Collette e Imogen Poots são a cereja do bolo.

Com efeitos especiais poderosos e maquiagem caprichada (melhores que certamente muitos dos que irão ser cotados ao Oscar), o filme foi um inexplicável fracasso nos cinemas americanos, não conseguindo nem fazer 20 milhões de dólares em quase 2 meses. Uma pena com um filme que em nenhum momento quer tentar inventar a roda e criar algo novo ou original sobre a cultura na qual se debruça; a diversão (muito) bem produzida e a garantia de bons sustos e risadas por 100 minutos é sua intenção maior, cumprida com méritos.


NOTA: C+

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