segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Enid no Festival do Rio 2011 - Cabin Days I:

Pois começou tudo, galera. Com a abertura das sessões para a imprensa nessa última sexta-feira, já digo que o cheirinho do Festival do Rio já começou a ficar forte, e sua enxurrada de filmes que parece não ter fim já estão chacoalhando os cinéfilos cariocas. Muitas confirmações, tantas ausências... ou seja, mais do mesmo. Queríamos 'Shame' do Steve McQueen, 'Carnage' do Polanski, 'Once Upon a Time in Anatolia', do Nuri Bilge Ceylan, até o 'Garoto da Bicicleta', dos Dardennes, que estava mais que confirmado, parece ter ficado de fora. Não adianta chorar, galera... ano passado tiveram ausências, ano que vem também teremos. Não adianta esperar que não role; o que talvez adiante é começarmos logo cedo, no início de cada ano, a empilhar os filmes que importam e que queremos ver no Festival, já que agora temos até canais de comunicação direta, como o Facebook.

A cabine de sexta estava relativamente cheia, e foi um bom dia, com 2 filmes bem agradáveis abrindo os trabalhos. Vamos a eles:

* Um Homem Engraçado:

  Comédia dramática dinamarquesa que concorria a vaga de seu país na corrida do Oscar do próximo ano. O diretor Martin Zandvliet está apenas no seu segundo filme aqui, e dirige uma obra baseada numa história real, do que deve ter sido um dos maiores 'stand-up actors' da história da Dinamarca, Dirch Passer. No que isso tem de bom e ruim, o filme é todo certinho. Ao mesmo tempo que não vira uma salada chumbrega como aconteceu em 'Gainsbourg', tampouco o filme tem um roteiro extraordinário como o de 'O Mundo de Andy'; fica naquela seara mesmo das realizações feitas para louvar, onde o elenco se entrega e dá show, e ao diretor cabe apenas a tarefa de organizar cenas e cronogramas, interferindo pouco ou quase nada no resultado final.

  Basicamente, Dirch viveu freneticamente amores e carreira (que se extendeu por filmes, sempre com muito sucesso), tão freneticamente que as amantes saem, os filhos chegam, as amizades se interrompem, e não sabemos exatamente de onde vieram as situações. O foco principal é obviamente a amizade e parceria de anos com Kjeld Petersen, seu único amigo e partner nos shows que fazia. Segurando inúmeros pepinos que Dirch lhe entregava, Kjeld além de tudo ainda precisava observar o carinho descomunal que a plateia sempre teve por Dirch, quase ignorando-o. Quando eles se separam e surge a oportunidade de montar a peça dramática de seus sonhos,  Dorch joga tudo pro alto bancando esse sonho, mesmo que isso possa custar sua credibilidade e até mesmo sua carreira.

Os atores Nikolaj Lie Kaas e Lars Ranthe tem momentos incríveis como os 2 amigos que dividem palco e vida, nos permitindo embarcar numa história sem maiores atrativos ou reviravoltas. São eles o grande motivo para dar uma chance a esse filme simpático e divertido que até chega a emocionar, sem esquecer que o filme nunca pretendeu ir além disso.


NOTA: C+


* Contágio:



  Steve Sorderbergh vai se aposentar, e já está numa espécie de despedida coletiva. Esse novo 'Contágio' é um dos últimos, não se acredita que vai haver muito além de mais uns 3 ou 4 cujos contratos já foram assinados. Dois já estão prontos para serem lançados ano que vem, um está sendo filmado agora e o que deve ser o último (a vida de Liberace, a ser vivido por Michael Douglas) filmado ano que vem. Deverá sair de cenas aos 50 anos então esse americano de Atlanta que leva consigo todos os mais importantes prêmios que o mundo do cinema pode dar a alguém, incluindo aí um Oscar de direção ('Traffic') e uma Palma de Ouro em Cannes ('sexo, mentiras e videotape') em sua estreia no cinema. Sabe-se lá o que deve ser isso.

  Com tantos detratores quanto admiradores, muita gente já mandou rezar missas inteiras para que ele cumpra a promessa. Não faço parte nem de uma leva ou outra, mas acho sim grave que alguém jovem e cheio de algumas ideias interessantes resolva se aposentar, e uma meia dúzia de pangarés de Hollywood ainda insistam em mostrar trabalhos de origem mais que duvidosa. Como sempre aconteceu em sua carreira, esse produto é mais da linha 'blockbuster' do que do seu grupo de filmes autorais, de onde parecem que virão seus derradeiros filmes. E mais uma vez ele conta com um elenco extraordinário.

  Contando a ascenção de um vírus letal pelo mundo, Sorderberg e seu roteirista Scott Z. Burns (que já tinha entregue um senhor material pra ele, 'O Desinformante!') destrincharam várias histórias que margeiam a destruição que tal vírus vai fazendo pelo planeta. Temos um homem comum (Matt Damon) que acaba de descobrir que a esposa (Gwyneth Paltrow) foi infectada e passa a viver com medo; temos uma médica (Marion Cotillard) fazendo pesquisa de campo e que acaba sendo sequestrada por um grupo de pessoas querem ajudar seu vilarejo; outra médica (Kate Winslet) que ao mesmo tempo que caça o virus também morre de medo de ser infectada; um porta-voz do governo (Laurence Fishburne) que tenta salvar e ajudar a própria esposa (Sanaa Lathan) quando a notícia estoura; um blogueiro (Jude Law, por incrível que pareça o melhor do elenco) que passa a ser perseguido pelo governo por conta das denuncias que faz culpando o alto escalão pelas mortes; e muitos outros.

  Sem grandes novidades no gênero, o filme acaba ganhando muitos pontos por se posicionar de forma muito humana em todas as historinhas. Dificilmente tem uma posição burocrata no filme, não onde não se enxergue o ser humano no fundo, sempre. Com uma trilha sonora de arrepiar e um trabalho de som também incrível, o filme demonstra porque Sorderbergh não deveria ser descartado tão claramente. O cara ainda consegue fazer uma história ser bem dirigida, interpretada e parecer relevante.


NOTA: B-
 

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