quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Enid no Festival do Rio 2011 - Dia 6:

Dia que começa com furo do Festival você já tem que ficar com pé atrás, né? Pois a cabine de '4:44' que estava marcadíssima não rolou, e ainda há o perigo do filme nem vir mais para o Festival! Medo perde... o dia (cinematograficamente falando) foi bem bom, no entanto... tivemos afinal a segunda nota máxima do Festival. Sabem qual é? Tentem adivinhar... hehehehehehehe...

* Abismo Prateado:


Expectativa a milhão ao entrar na noite de ontem no Odeon, afinal não é todo dia que vimos um filme novo de Karim Ainouz (que muito dizem ser meu sósia; não acho tanto...). Na tela, Alessandra Negrini é Violeta, uma mulher de quase 40 anos, muito bem casado e bem resolvida, com um filho de 14 e que acaba de comprar seu apartamento. É uma dentista competente e moradora da bela Copacabana, no Rio de Janeiro. Prosaico, né? Apesar de tudo, o mundo de Violeta irá ruir sem que ela perceba... e através de uma mensagem de voz no celular, Djalma anuncia que vai deixa-la. Que não irá voltar mais. E que o amor acabou. Com clareza espantosa. A clareza que falta a Violeta, que sai pela cidade sem chão, rumo ou perspectiva. Quer ir a Porto Alegre encontrar o marido (que é piloto), quer ficar sozinha num hotel, quer mostrar que está na pista de uma boate, quer tentar entender tudo enquanto toma um sorvete na orla, observa outras pessoas que passam por ela tentando buscar qualquer resquício de compreensão do mundo. A jornada é longa para alguém que acabou de levar uma paulada.

Tecnicamente é mais um espetáculo de Ainouz, com fotografia do cada vez mais excelente Mauro Pinheiro Jr., montagem estupenda, ou seja, a competência explícita do grupo que Ainouz sempre aglutina. Já o roteiro (feito sob encomenda para uma espécie de série de homenagens a Chico Buarque, tendo em vista que o filme é uma livre adaptação de 'Olhos nos Olhos') não segue a excelência dos trabalhos superlativos do diretor, e Ainouz tenta transformar o que não é explícito em espetáculo; consegue. Os primeiros 20 minutos do filme escorregam na vida de classe média de Violeta; quando a mesma sai desarvorada, o filme ganha pontos essenciais. E acaba mostrando mais uma vez a enorme quantidade de talento de um diretor que não cansa de demonstra-lo, dessa vez numa tarefa hercúlea e recompensada no belo amanhecer de Violeta.


NOTA: B+

* Os Crimes de Snowtown:



A face do mal se esconde nos lugares exatamente onde se espera. No filme mais tenso do Festival do Rio 2011, vemos que a fuga de uma situação dramática pode levar a situações ainda mais infelizes, e criar monstros pode ser bem mais fácil do que se imagina. Em mais uma estreia que o Festival tem o prazer de apresentar, Justin Kurzel sai do ostracismo na Austrália local para o mundo do cinema e chega fazendo barulho. Já comparado ao recente 'Reino Animal' pela nacionalidade e visceralidade, a qualidade de ambos também é o diferencial. 

Jamie e seus 2 irmãos menores são vítimas de um pedófilo que mora do outro lado da rua. Revoltada, sua mãe conclama a vizinhança e reuniões a respeito do tema começam a acontecer na sua casa, quando o tal pedófilo inclusive é rechaçado de forma tão violenta que é obrigado a ir embora do bairro. Até aí tudo bem, mas nesse momento a cobra já se aproximou. O nome do animal? John Bunting, espécie de lider nato da localidade e que parece um alento na vida de Elizabeth, a mãe dos meninos. Logo o homem se tornou uma espécie de pai postiço das crianças, e da forma mais traiçoeira possível revela pouco a pouco sua real face psicopata ao atormentado Jamie, que se vê cada vez mais envolvido nas "atividades" nada ortodoxas de John.

Um estudo sobre a psicopatia latente em todos nós, o filme é uma aula de precisão. Fotografia, montagem, trilha sonora (talvez a melhor da mostra), um elenco fora de série, com destaque absoluto para Daniel Henshall, um absurdo de assustador sem mover nenhum músculo da face. Dono de imagens estarrecedoras e talvez o filme mais tenso exibido em todos esses dias, 'Snowtown' é um filme mais que obrigatório. É de fato um dos melhores do ano, dentro e fora do Festival.


NOTA: A+


 

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