quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Enid no Festival do Rio 2011 - Dias 11, 12 e 13:

É, galera... seu sei que estou no furo máximo com voces. Mas tendo ainda 11 (ONZE!) críticas a escrever, tentarei colocar tudo em dia agora. Voces sabem, perdi minha credencial no que seria a véspera do "Dia 10", e por isso ele não existiu (a depressão nele sim). No dia 11, consegui uma nova (já que quem tem amigo, não morre pagão...) e já engatei os filmes restantes da Mostra, num final onde até apareceram filmes ruins, mas que um quarteto fez por onde simplesmente valer a pena os últimos 14 dias. Grandes filmes, senhores filmes... nossa, em êxtase por eles. Agora aqui, os comento de forma breve porém empolgado.

* A Separação:


Há 2 anos atrás Asghar Fahradi começou encantando a Alemanha com seu fascinante 'Procurando Elly', e de lá a fama desse novíssimo cineasta iraniano correu o mundo, comovendo cada lugar por onde passava. Cabe aos países agora (nós inclusive) importarmos seus primeiros 3 filmes, todos relativamente recentes. 'Elly' saiu do Festival de Berlim com o prêmio de direção para Fahradi e esse ano o diretor voltou ao Festival com esse novo trabalho que logo se configurou como o favorito do ano, não decepcionando e levando logo o Urso de Ouro. Mas o júri queria muito mais e deu também os prêmios de ator e atriz ao filme, representados por todo o elenco. Ou seja, o amor pelo filme era ainda maior do que se suponha, um amor mais que merecido.

Na trama (que ao menos pela segunda vemos, observamos que Fahradi parte sempre de algo banal "em tese"), de cara somos informados sobre a separação de Nader e Simin, casal que tem uma filha adolescente que discorda sobra uma possível viagem para outro país em busca da concretização dos seus sonhos. Nader não acredita nisso, enquanto Simin não vê outro futuro; além disso, o pai de Nader tem Alzheimer e necessita de cuidados, e para isso é contratada Razieh, que vai funcionar como uma espécie de acompanhante, enfermeira e doméstica na casa com a partida de Simin. Logo, toda essa estrutura virá abaixo quando um ato de violência for desferido contra Razieh, que está grávida e cujo marido não sabe que ela está trabalhando. Mentiras, segredos e opiniões contraditórias e volúveis farão parte da realidade desses 2 casais, e das demais pessoas que irão cercar o conflito gerado.

A estrutura dramática que Fahradi constroi mais uma vez é exemplar. Assim como em 'Procurando Elly', o filme é repleto de novas informações que a todo momento enriquecem e dão novo viés ao contexto mostrado, além de deixar tudo cada vez mais nebuloso dos pontos de vista ético e moral, acendendo discussões pertinentes. Não à toa um favorito antecipado ao Oscar de filme estrangeiro, não se engane que Fahradi está apenas falando de família aqui. Se você é iraniano, a política está entranhado em cada coisa que você faça, e um dos inúmeros talentos de Fahradi é falar de um microcosmo diminuto na superfície, e mergulhar na ótica do seu país de forma brilhante. Simplesmente genial.


NOTA: A+

* Caminho para o Nada:



Confessando aqui o que talvez seja um grande pecado: apenas ano passado, às vésperas do início do Festival de Veneza 2010, é que soube da existência de Monte Hellman. Tendo dirigido cerca de 13 filmes entre os anos 60 e 80, Hellman ficou mais de 15 anos sem dirigir nada até voltar aos curtas 5 anos atrás. Foi então levado a Itália ano passado para competir com esse filme, justamente no ano em que seu pupilo Quentin Tarantino foi presidente do júri. Como tio Tarantino idolatra a obra passada desse cineasta de quase 80 anos, esse homem que é considerado por muita gente como 'Papa do real cinema underground americano' saiu do Festival com um Prêmio Especial pela carreira. Ao assistir o filme, chegamos a conclusão que muita pressão deve ter feito Tarantino desistir de cnceder o Leão de Ouro a Hellman. Uma pena, porque 'Caminho para o Nada' é infinitamente superior a 'Um Lugar Qualquer', que sagrou-se vencedor.

Sacam 'Cidade dos Sonhos'? Pois a vibe é essa: um diretor obcecado com a adaptação para o cinema de um crime real que aconteceu na Carolina do Norte; uma blogueira que vendeu os direitos de seus escritos para Hollywood; uma atriz de quinta que se submete ao filme, ao diretor e aos poucos emerge dessa salada transformada; um investigador de uma seguradora que ronda a produção do tal filme. Junte isso ao crime em si, e as filmagens das cenas reais, e temos 3 linhas narrativas que misturam o tempo inteiro, criando fascínio a frente de nós. Como se trata do mesmo elenco representando várias versões de uma mesma situações, o jogo de espelhos da metaliguagem do filme enriquece gradativamente, e aos poucos nossa sanidade vai sendo colocada tão a prova quanto à das personagens.

A pressão sob a qual Tarantino sucumbiu com certeza seria bancada por David Lynch, já que o filme transpira situações 'lynchianas' a todo momento. Uma espécie de obra que não se explica e que sentimos a cada novo 'frame' como o bizarro pode conviver com a normalidade a todo tempo. Um elenco que entendeu a proposta do filme tem representado em Shannyn Sossamon a expressão máxima da entrega. Daqueles filmes que não irão demorar a se tornar 'cults', o filme é um 'neoclassico' instantâneo onde a cada nova virada por cima de sua estrutura de metalinguagem entendemos mais o desprezo por Hollywood nutrido por Monte Hellman. Ou por Mitchell Haven (é deliciosamente explícito o jogo das iniciais). Ou de ambos. Se deixe levar por imagens desconcertantes e compartilhe o prazer de uma experiência que não se consegue diariamente no cinema.


NOTA: A+

* Aqui é o Meu Lugar:



Da expectativa fenomenal que se formou em torno do encontro do diretor de 'Il Divo' e do astro americano vencedor de 2 merecidos Oscars, Cannes esse ano observou tal expectativa da forma mais escrota, como se estivessem decidindo que 'diante de tantos filmaços que vimos, chega de acharem que tudo é meravilhoso e vamos falar mal desse aqui'. Diante de um Sean Penn diferente do que imaginavam (mesmo que a bizarra imagem do astro já estivesse sendo divulgada bem antes da seleção para o Festival), a reação da imprensa e do juri foi ignorar. Com isso, perderam a chance de apreciar a contento um novo baile de direção de Sorrentino, um filme imune a defeitos.

Penn é Cheyenne, cantor de rock de sucesso nos anos 80 que hoje já não frequenta as paradas de sucesso e vive recluso numa mansão irlandesa. Ao lado da esposa (a grande Frances McDormand), Cheyenne não faz muita coisa a não ser visitar duas famílias de fãs seus e manter amizade com a irmã de um deles, tão excêntrica quanto ele. Ao tomar conhecimente da iminente morte do pai que ele não vê há 30 anos, o astro volta aos EUA, para o interior de sua família judia. E é durante o velório que ele é informado que seu pai teria achado o homem que o torturou no campo de concentração de Auschwitz. O que fazer mediante isso? Qual seria a função, a essa altura do campeonato, de tentar localizar esse homem? Cheyenne também não sabe as respostas, mas decide ir até ele pelas estradas americanas.

Um road-movie com imagens que remetem ao que de melhor Win Wenders já produziu, Sorrentino explora a atmosfera americana e extrai poesia de rodovias e cenários, sempre com o sarcasmo rasgado das frases que Penn profere. É graças ao roteiro conciso, à fotografia poderosa, à felicidade de encontrar mais um Sorrentino pleno de talento, que tudo que é menor é colocado de lado aos poucos pelo filme. Quando enfim percebemos como Sean Penn cresce e amadurece durante a projeção. Belíssimo.


NOTA: A+

* O Morro dos Ventos Uivantes:






Vejam a foto acima: este é Heathcliffe, quer voces queiram ou não. Não juntam o nome a pessoa porque Heathcliffe nunca foi retratado por um negro, embora provavelmente seja o que ele é. Tratado como um escravo pela família que o adotou, Heathcliffe cresceu observando a irmã de crianção Elizabeth. A diretora Andrea Arnold (dos incríveis 'Marcas da Vida' e 'Aquário') concebe a versão definitva do clássico de Emily Brönte. Sempre tratado com reverência e formalidade, o livro ganha aqui as nuances que Arnold disse sempre ter observado: a ligação daqueles personagens com o meio em que vivem, no caso ali as montanhas sem fim que os cercava; fazendo da natureza e da relação do homem com ela quase protagonistas, a diretora consegue como resultado seu melhor filme em 3.

A história é exatamente a mesma: após ser criado por uma família pouco abastada como filho, Heathcliffe logo percebe seu lugar quando o pai da família morre. O carinho que Elizabeth sentia por ele vai sendo diluído por tantos castigos que o irmão impinge a ele, e os anos passam. Heathcliffe foi embora, mas volta e encontra o amor de sua vida casado. Com posses, o rapaz vai tentar reconquistar a atenção de sua amada de forma pouco usual, e aos poucos eles vão saindo do torpor romântico e mergulhando na miséria de acusações e mágoas antigas.

Arnold sabe exatamente o que quer, e ao envolver toda a natureza nessa história de amor proibido clássica, obtém o resultado mais que perfeito, com um elenco de novatos simplesmente perfeito. Com a ajuda de uma
fotografia esplêndida. a diretora caputura imagens simplesmente da forma mais poética possível, e não demora a criar vínculo com ninguém mesmo que sua narrativa não seja exatamente um exemplo de reviravoltas e 'pseudo' ação. Na pungência de seu roteiro, Arnold acaba se aproximando do seus longas anteriores também nas imagens mais sensuais do Festival. Um filme imperdível.


NOTA: A+

* Amanhã Nunca Mais:


Escute um conselho de amigo, Lázaro: não aceite fazer nada por amizade. Não foi por nada além disso que ele, o fotógrafo Ricardo Della Rosa, o músico André Abujamra, e ainda Milhem Cortaz devem ter aceitado fazer a estreia de Tadeu Jungle na telona. Um mestre da propaganda, não aprendeu que uma coisa não é igual a outra, e se arrisca numa atividade completamente nova saindo completamente desfigurado.

Vemos aqui o médico anestesista Valter que tem uma missão bem simples pela frente, que é pegar o bolo de aniversário da filha e levar para a festinha. Mas valter tem um terrível problema: ele não consegue dizer 'não'. Então nessa levada, Valter vai quebrando o galho de todos, e sua esposa desejando a morte para ele, a hora que fosse.

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